Já faz quase um ano que eu tenho essa final na cabeça. Desde o final do Brasileirão passado, quando o Cruzeiro conseguiu a vaga, eu já tinha decidido que, se chegasse na final, eu estaria aqui. Mesmo nem sabendo onde seria "aqui". Quase um ano idealizando, planejando, oscilando entre empolgação, desconfiança e esperança. Quase um ano já nessa viagem.
Parece meio loucura, mas eu sempre achei muito possível de acontecer. Mesmo na gestão passada, com investimentos menores, eu tinha a sensação que dava. Afinal, a Sul-Americana sempre foi uma competição mais acessível, onde muitas vezes até times não tão tradicionais conseguem sucesso.
Mal sabia eu que na nossa vez ela estaria mais para uma Libertadores.
Enfim, passei literalmente um ano falando dessa (suposta) viagem com todo mundo. Poucos, especialmente torcedores de outros times, botaram fé no projeto. Até mesmo os cruzeirenses muitas vezes não se empolgavam muito com a possibilidade e tinham total razão para isso.
Mas que espaço tem a razão no futebol?
A cada fase avançada, a gente ia ficando mais perto e menos gente ia duvidando da viagem.
Mesmo sendo do interior, consegui ir duas vezes ao Mineirão nessa campanha. Contra a Católica, por uma coincidência de já estar em BH e contra o Boca, em uma loucura totalmente planejada.
No jogo do Boca, aliás, eu lembro de ter um sentimento muito forte de ansiedade e preocupação sobre o que ia acontecer, o que eu veria aquela noite no Mineirão. Uma classificação histórica ou mais uma noite frustrante nesses anos amargos que aos poucos vamos deixando para trás?
Curiosamente, hoje essa preocupação é um pouco menor. Claro que pode e deve ainda aumentar a ansiedade até sábado. Claro também que vim ver o jogo e quero demais sair daqui campeão. Mas o processo todo da viagem parece que diluiu um pouco a ansiedade.
Desde que coloquei na cabeça que viria, eu já tinha muito claro uma coisa: não posso condicionar o sucesso da viagem ao resultado do jogo.
Apesar de achar que o modelo de final única não se encaixa bem na realidade sul-americana, sempre achei muito legal a mobilização de torcidas para viajar em massa para outros países para ver futebol: os aviões lotados de torcedores, as ruas coloridas e as pessoas confraternizando juntas. E era também essa experiência que eu queria viver.
Então, é óbvio que todo mundo aqui quer demais esse título e, se ele vier, teremos vivido uma aventura perfeita no Paraguai.
Mas futebol é imprevisível e incontrolável.
Meu ponto é que, caso não venha, a viagem, mesmo faltando um pedaço, ainda terá valido a pena por si só.
Porque a sensação de estar aqui é muito boa. Não sou religioso, mas é meio que como estar numa peregrinação. Você está em um lugar diferente, mas não é como se estivesse sozinho para resolver um problema ou aproveitar um passeio só seu.
Todo mundo ali está junto pelo mesmo motivo.
Andar na rua e ver as camisas estreladas aos montes mesmo tão longe de casa.
Desconhecidos se cumprimentando, felizes ao ver mais um dos seus e também certamente orgulhosos uns pelos outros, porque mais ou menos, sabemos a dificuldade que foi para estar aqui.
Podemos ser desconhecidos no Brasil, mas aqui a gente se reconhece de longe e se sente acompanhado sempre que vê as cinco estrelas no peito de alguém.
Os olhares meio desconfiados com os argentinos, que também vão chegando aos montes. Existe um respeito, pela história dos clubes, pelo lado torcedor de cada um que está aqui e sabe o que significa. Mas cada um na torcida para que seja seu lado o lado feliz no sábado a noite.
Receber mensagens de amigos, torcedores fanáticos de outros clubes, dizendo vão acompanhar e torcer para o Cruzeiro só por causa da gente é demais.
Assim como receber mensagens de apoio de cruzeirenses que não puderam estar aqui. Esses que certamente vou, em pensamento, levar comigo para o estádio no sábado.
Aos poucos e muito lentamente a hora da final vai chegando. A ansiedade e expectativa vão crescendo e em breve vamos ter contato com o destino que nos trouxe até aqui.
Depois de tudo que passamos, uma coisa é certa: olhamos esse destino de frente. Sem medo, porque não há motivos. De acordo com muito gente, não era nem para estarmos aqui, não era para existirmos ainda.
Mas somos acostumados a guerrear.
Foi assim que saímos do buraco para chegar até Assunção e é assim que vamos encarar o destino.
O cruzeirense sabe o tamanho dessa final.
Vamos juntos.